sexta-feira, 13 de junho de 2008

Maternidade: portuguesas escolhem engravidar depois dos 40


«Mães cada vez mais tarde

Em 2003, três portuguesas tiveram o primeiro filho depois dos 50 anos e uma quarta deu à luz pela segunda vez aos 51 anos. Números que têm seguido uma tendência de crescimento, acentuado ainda mais quando se fala da maternidade a partir dos 40.

É aquilo que os especialistas chamam de gravidez na 5.ª década, uma situação que, em dez anos, ganhou cada vez mais adeptas no nosso país, o que é confirmado pelos números: de 1,7, a percentagem aumentou para 2,6. Só em 2003, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), 2899 mulheres acima dos 40 optaram por aumentar o agregado familiar, mais do que aquelas que decidiram ter um filho aos 20 anos (2794). “Um valor elevado se tivermos em conta o número total de partos”, explica Teresinha Simões, ginecologista e obstetra na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.

Esta realidade não é exclusiva de Portugal. A moda de ter filhos cada vez mais tarde existe um pouco por todo o Mundo e parece ter vindo mesmo para ficar. Nos Estados Unidos, entre 1991 e 2001, a percentagem de mulheres que teve o primeiro filho depois dos 40 anos aumentou 70 por cento. “Tendência que se verifica também um pouco por toda a Europa”, afirma a especialista.

Maior esperança de vida, métodos contraceptivos mais eficazes e uma maior aposta na vida profissional são algumas razões que podem explicar por que é que as mulheres escolhem ter filhos cada vez mais tarde. “Há mais e mais mulheres a estudar e, a partir do momento em que isso acontece, surge a perspectiva de uma carreira”, refere Teresinha Simões. “Para muitas, um filho pequeno é interpretado como um entrave à sua vida profissional.
”MITO A DEITAR POR TERRA
Desenganem-se, no entanto, aquelas que pensam que se pode engravidar em qualquer idade. Apesar de todos os avanços tecnológicos, a menopausa mantém-se na mesma altura, limitando a idade fértil das mulheres. “Existe muito o mito, hoje em dia, que se pode engravidar em qualquer altura, mas a fertilidade depois dos 40 é muito inferior há que existe entre os 25 e os 30 anos”, explica Teresinha Simões. “É importante que as mulheres que decidem engravidar depois dos 40 tenham noção que vai ser cada vez mais difícil”, acrescenta.

E não é só a diminuição da fertilidade que importa ter em conta. Quanto mais tarde engravidar, maiores são os riscos que a mulher e o bebé vão correr. Por exemplo, enquanto a taxa de aborto natural aos 20 anos é de 10 por cento, acima dos 45 ela sobe para os 90 por cento. “Ou seja, em cada 100 gravidezes, 90 não vão chegar ao fim”, alerta a médica.

A este factor junta-se ainda a possibilidade acentuada de anomalias cromossómicas (como a trissomia 21), o risco duas vezes superior de hipertensão (problema que vai condicionar a evolução da gravidez, provocando atrasos no desenvolvimento do feto), uma maior probabilidade de um parto prematuro, assim como um risco quatro vezes superior de morte ‘in utero’. “Ou seja, ter o primeiro filho depois dos 40 é de evitar. Até porque, apesar da esperança de vida ser maior, quem tiver um filho aos 50 anos, vai ter filhos adolescentes aos 70, numa altura em que não há a mesma paciência para gerir os problemas da idade.

”IDADE POUCO ACONSELHÁVEL
As razões para aumentar a família em idade mais jovens são muitas, mais ainda sabendo-se que a gravidez depois dos 40 pode mesmo condicionar a esperança de vida das grávidas, como explica Teresinha Simões. “A gravidez tardia pode aumentar o risco de cancro da mama ou piorar problemas cardíacos que a mulher já tenha. E pode acontecer que a mãe não esteja cá para ver os filhos crescer.”

GESTAÇÕES COM FINAL PRECOCE
Uma avaliação feita entre as mulheres que tiveram bebés na Maternidade Alfredo da Costa (MAC) em 2002, 2003 e 2004, cujos números foram ontem apresentados no 3.º Congresso da MAC, revela que houve 22 mulheres com mais de 45 anos assistidas naquela unidade, ainda que a idade média das parturientes tenha sido os 46.

A comprovar que a gravidez acima dos 45 está associada a maiores complicações, estão os 68,2 por cento dos casos em que se verificaram nas futuras mamãs seguidas na MAC. Problemas que, em 41 por cento das situações, obrigaram mesmo a um internamento, sendo o motivo mais frequente, segundo os especialistas, a ameaça de parto antes do tempo.

Nenhuma das grávidas chegou à 39.ª semana de gravidez. A média de idade gestacional foi 37 semanas e, em 86,4 por cento dos casos, tornou-se necessário recorrer à cesariana. A MAC foi ainda mais longe e avaliou a escolaridade materna que, em 50 por cento dos casos, revelou-se superior ao 12.ª ano.

EXCEPÇÕES COM AJUDA DA CIÊNCIA
Aos 66 anos, a romena Adriana Iliescu, professora universitária na reforma e autora de livros infantis, tornou-se a mulher mais velha do Mundo a ter um filho. Proeza conseguida apenas com auxílio da procriação medicamente assistida, mas que mereceu duras críticas por parte de diferentes grupos da sociedade, desde políticos a religiosos. Críticas que não pareceram incomodar a sexagenária, incapaz de esconder a alegria de ser mãe pela primeira vez, apesar da idade para ser avó. “Não me preocupo com os dias que virão”, afirmou, em declarações à Imprensa. “Ninguém pode prever o futuro”, acrescentou.

Mas Iliescu não foi a primeira mulher a ter um filho depois dos 60. A polémica já tinha sido lançada em 1994, depois de uma mulher de 63 anos ter dado à luz. Mais tarde, em 2001, uma francesa de 62 anos deu origem a nova discussão sobre qual a idade limite para se ter filhos. Na altura, um médico francês, membro da Comissão de Ética daquele país, mostrava-se chocado. “A minha maior preocupação é, sobretudo, pela criança que, quando tiver 20 anos, vai ter uma mãe com 82.

”É para determinar que tipo de adultos vão ser as crianças com pais diferentes do considerado a norma que se estão a realizar alguns estudos a nível mundial. As opiniões dos especialistas dividem-se: há os que acreditam que não existirá qualquer trauma, enquanto outros defendem que mães muito velhas não vão ter condições para acompanhar os seus filhos durante todo o tempo que estes vão precisar.

"UMA CRIANÇA ILUMINA A VIDA"
“Quando a minha segunda filha nasceu, tinha outra disponibilidade e consciência que não existiam quando tive a primeira”, conta a actriz Rita Ribeiro. Depois de, com pouco mais de 20 anos, ter sido mãe pela primeira vez, adiou a vontade de ter mais filhos por motivos profissionais. A vida intensa no teatro assim não permitia, até que, aos 42 anos, acolheu um novo rebento na família. Uma gravidez planeada, sem medo do que o futuro tem reservado, apenas o desejo de viver ainda mais tempo e com uma melhor qualidade de vida possível. É que, afirma, a idade não importa. “O que conta é o nosso espírito e, nele, sou mais jovem que muitas mulheres mais novas que eu.

”Maria tem hoje oito anos. Pouco menos que os dois sobrinhos, netos da mãe, de 11 e nove. Mas não foi o facto de ser avó que impediu Rita Ribeiro de fazer crescer a família. “Achei que, como já tinha passado de menina a avó, era tempo de olhar para a minha vida e ter mais uma criança. O meu sonho, desde cedo, era ter muitos filhos e ainda não excluí a ideia de ter mais um.

”A actriz não pensa nas dificuldades que o futuro lhe reserva, nas crises da adolescência que ainda estão para vir ou nos conflitos que, enquanto mãe, vai ter de gerir. pelo contrário, diz-se pronta para os dramas típicos da adolescência e para acompanhar a filha, que costuma chamar de “rainha”, em tudo o que for necessário. Afinal, conta, “uma criança ilumina a nossa vida e lembra que todos temos uma criança dentro de nós”.

EXTREMOS
Em 2003, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), 3860 jovens com idades entre os 13 e os 18 anos tiveram filhos. No outro extremo, 2899 mulheres com mais de 40 anos deram à luz em idêntico período. Destas, 697 foram mães pela primeira vez.

ADOLESCENTES
Ainda de acordo com o INE, das 1166 jovens de 17 anos que, em 2003, tiveram bebés, 64 fizeram-no pela segunda vez e duas pela terceira.

NÃO PLANEADA
Um estudo realizado pela Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, que avaliou 146 grávidas com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos, revelou que a grande maioria tinha uma gravidez não planeada. Em 20 casos, a gravidez foi interrompida por malformação fetal e situação de risco para a saúde psíquica da adolescente.

NÚMEROS A SUBIR
Ainda na MAC, considerada a maior maternidade do País, a percentagem de grávidas assistidas com mais de 40 anos passou de 3,8, em 2003, para 4,3 durante o ano passado.

MADEIRA LIDERA
Das quatro mulheres com mais de 50 anos que, em 2003, tiveram bebés, uma era universitária, enquanto as outras três tinham escolaridade elevada. Quanto à sua origem, uma era do Algarve, a segunda do Norte do País e duas da ilha da Madeira, região que é a campeã na percentagem de mulheres que engravidaram com mais de 40 anos, seguida do Norte e da Grande Lisboa.

MARIDOS JOVENS
Quando se avalia a idade dos maridos da mães depois dos 50, verifica-se que uma grande percentagem destas mulheres tem companheiros mais jovens, com uma média de idades na casa dos 30 anos.

CULPA DO TRABALHO
Sylvia Ann Hewlett, uma economista norte-americana que foi mãe pela primeira vez aos 51 anos, escreveu um livro sobre a maternidade tardia e chegou à conclusão que é resultado de uma aposta feita pelas mulheres na sua carreira. Realidade comprovada pelos números – de acordo com uma sondagem, um terço das 1658 profissionais de sucesso nos Estados Unidos não tem filhos aos 40 anos.

Carla Marina Mendes»

Fonte:Açores.com

Sem comentários: