segunda-feira, 7 de julho de 2008

Bebés com mau feitio


«Birras de bebés levam muitos pais à Unidade de Primeira Infância do Hospital D. Estefânia

Choro, birras, dificuldade em acalmar e recusa em comer e dormir são características dos bebés irritáveis que deixam as mães de «cabelos em pé» e levam muitos pais e crianças à Unidade de Primeira Infância do Hospital D. Estefânia.

À sua espera está uma equipa formada por três pedopsiquiatras, duas enfermeiras e uma psicóloga que tenta descobrir, na consulta dos «Bebés Irritáveis», os motivos que levam ao comportamento depressivo destes bebés.

«As cólicas têm ¿as costas largas¿ mas não são motivo para tudo», disse em entrevista à agência Lusa o pedopsiquiatra Pedro Caldeira da Silva, responsável da Unidade da Primeira Infância do Hospital D. Estefânia, que funciona no Bairro da Encarnação, em Lisboa.

«Nos primeiros três meses os bebés podem chorar, mas há crianças que passado esse período continuam com dificuldade em acalmar e organizar os ritmos de sono e alimentares», uma situação muitas vezes desvalorizada pelos clínicos e família, adiantou o médico.

Distinguir os choros dos bebés

Os conselhos que os avós e os clínicos dão aos pais, de que estes «têm que ter paciência», muitas vezes não chegam.

«Há muitos anos que sabemos uma coisa óbvia: os bebés são todos diferentes e que há um conjunto de factores que podem condicionar terem melhor ou pior feitio», sustentou.

Os bebés têm «diferentes maneiras de reagir ao ambiente, de lidarem com a informação e de reagir aos estilos relacionais».

A maior parte dos pais conseguem rapidamente distinguir os vários choros dos bebés - dor, fome, enfado - e intuitivamente conseguem encontrar respostas para os filhos.


Mau feitio?

Para os casos em que os pais e os médicos já não conseguem encontrar solução, a Unidade de Primeira Infância criou há três anos a consulta de Bebés Irritáveis.

«Na equipa procuramos fazer diagnóstico com referência a sistemas de classificação, mas o nosso interesse é descobrir de que maneira é que vamos pôr o bebé calmo e a família a ter um relacionamento satisfatório com ele», sublinhou.

Para chegar ao diagnóstico, a equipa tenta perceber como o bebé entrou na família e o estado de espírito dos adultos.

Questionado pela Lusa sobre se estes bebés sofrem de depressão, o médico explicou que «o diagnóstico é muito individual e não tem um nome», mas contou que uma das situações que se têm verificado é que muitos das crianças irritáveis têm uma relação com a depressão materna.

«Há crianças que têm uma experiência muito negativa do mundo e só têm duas maneiras de se proteger deste sentimento: desviar o olhar ou fechar a boca», elucidou.

Bebés podem até morrer

De acordo com Pedro Caldeira, há casos de crianças com um ano que têm recusa alimentar persistente, o que afecta o peso e sua sobrevivência.

«Há casos que podem levar à morte, mas são muito raros», um ou dois casos por ano, disse o médico, comentando: «Parece impossível que possa haver anorexia em crianças, mas os bebés sentem e pensam, não são seres passivos».

A nível de intervenção nestes casos, o médico disse que não existem «muitos meios além da palavra».

«Nestas situações é muito importante a observação dos bebés, a gestão das informações e perceber ansiedade das pessoas que estão à volta do caso», acrescentou.

Dormir com os bebés

Muitos dos bebés irritáveis tem insónias graves e o conselho mais frequente que o pedopsiquiatra dá, dependendo dos casos, é os pais dormirem com os bebés por considerar que eles precisam do contacto com os progenitores.

Mas muitas vezes este conselho não é bem interpretado pelos pais.

«Alguns ficam genuinamente espantados porque toda a gente dizia o contrário, mas uma semana depois vêm muito agradecidos porque as coisas se resolverem. Outras vezes não», contou.

O número de utentes que recorrem à Unidade de Primeira Infância, criada há 25 anos, tem vindo a aumentar de ano para ano. »

Fonte:Diário iol
Link:http://diario.iol.pt/sociedade/bebes-comportamento-hospital-birras/969192-4071.html

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