segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Como lidar com a alergia ao leite


«Cecilia Minner*, Jornal do Brasil

FOZ DO IGUAÇU - A interrupção precoce do aleitamento materno ou o uso de fórmulas à base de leite como complemento da amamentação pode desencadear no bebê uma alergia à proteína do leite de vaca (APLV). Vômitos, cólicas e diarréia são sintomas da doença de difícil diagnóstico – não há exames específicos para detectá-la. O mal afeta 5% das crianças brasileiras, principalmente nos primeiros dois anos de vida. No entanto, as eficazes fórmulas especiais de leite são caras e inacessíveis por grande parte da população.

– Assim que meu filho nasceu, os médicos deram para ele o que chamo de “mamadeira assassina”, o leite de vaca, e isso desencadeou uma alergia alimentar terrível. Na primeira semana, ele teve até crise de asma. E só depois de quatro anos descobriram que era uma alergia. Até agora, aos 14 anos de idade, ele não pode ingerir nenhum derivado de leite de vaca – relata Teresa Elisabete Pavan, que decidiu estudar nutrição para entender a patologia do filho.

A APLV é responsável por 90% dos casos de alergia alimentar. Como o intestino e o sistema imunológico do bebê ainda são imaturos, o organismo reconhece a proteína do leite de vaca como um corpo estranho e produz anticorpos.

– A predisposição genética também é um fator dessa alergia – afirma Christophe Dupont, professor de pediatria da Universidade René Descartes Paris V. – Quando os pais são alérgicos o risco de desenvolver a APLV chega a 80%.

A reação alérgica provoca problemas gastrintestinais (diarréia, prisão de ventre, náuseas e vômitos), respiratórios (asma e rinite) e dermatológico (manchas vermelhas na pele, lesões nas dobras e coceiras).

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatra e a Organização Mundial de Saúde, o aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses de idade, pois ajuda também a prevenir contra reações imunológicas. No entanto, há crianças que apresentam sintomas da alergia quando a mãe ingere leite de vaca ou seus derivados. A APLV pode manifestar-se imediatamente ou dias após a ingestão da substância.

– A mãe deve continuar a amamentar e fazer uma dieta de exclusão do leite de vaca e laticínios, assim como a criança – explica José Vicente Spolidoro, gastroenterologista e nutrólogo, durante o Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediatria, em Foz do Iguaçu.

Com a remissão dos sintomas, a partir do teste de exclusão – forma mais eficaz de diagnóstico – a APLV é confirmada. Caso contrário, a complicação é outra e deve-se tomar novas providências. A alergia pode ser descoberta também com exames de sangue e testes subcutâneos.

No entanto, é preciso estar atento e não confundir alergia ao leite de vaca com intolerância à lactose. Esta última é causada pela falta de enzima no intestino que digere o açúcar do leite, a lactose.

A tardia detecção da doença, muitas vezes confundida com outros problemas, pode levar o bebê à desnutrição, anemia (quando ocorre sangramento intestinal), além do risco de reação anafilática.

– A maior preocupação do médico deve ser com a questão nutricional, evitando que as perdas continuem pela inflamação intestinal. Quando diagnosticada a alergia, deve-se substituir o leite de vaca por uma fórmula alimentar infantil – complementa Spolidoro.

As chamadas fórmulas extensamente hidrolisadas são alimentos hipoalergênicos (baixa probabilidade provocar alergia) à base de proteínas quebradas em pequenas partículas. As fórmulas de aminoácidos livres também são bem indicadas.

No entanto, esses produtos são produzidas no exterior e chegam ao Brasil com um preço alto. A lata de 400 g de aminoácidos custa em torno de R$ 400. Uma criança necessita, em média, de 20 latas por mês.

– Um menino de quatro anos faleceu há pouco tempo por falta do alimento. É preciso que as empresas brasileiras façam pesquisas e produzam esses leites especiais – declara Teresa, que recebe a fórmula Neocape do município e atende gratuitamente casos de alergia alimentar na Santa Casa de Misericórdia.»

Fonte:JB on line
Link:http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/08/24/e240832007.html

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