quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Manual vai ensinar a adoptar crianças


«Guia para contrariar tendência para o bebé ideal

00h30m

ALEXANDRA MARQUES

Até ao final de 2008, vai ser lançado um Manual de Formação para Candidatos a adoptantes de crianças e jovens. De poucos meses, brancos, saudáveis e do sexo feminino. O "bebé ideal" impede mais adopções.

Os organismos e serviços que funcionam na área da adopção em Portugal decidiram elaborar um guia de formação, tanto para os que pretendem ser pais adoptivos, como para os que já o são.

O manual - que está a ser elaborado por um grupo de trabalho multidisciplinar - deverá estar pronto até Dezembro e será validado por entidades independentes de vários pontos do país.

O documento do Instituto da Segurança Social (ISS) - a que o JN teve acesso - realça que além da Convenção de Haia recomendar que haja formação ao longo de todo o processo, inclusive após a criança ou o jovem ter sido entregue à família -, os serviços também diagnosticaram "a necessidade de formação no âmbito da adopção nacional".

O manual pretende contribuir para a alteração dos pedidos que até agora têm dominado: criança até três anos, sem problemas graves de saúde ou deficiência, e de raça causcasiana.

"A esmagadora maioria dos candidatos à adopção são casais com história de infertilidade", muitos dos quais se submeteram a técnicas de fertilização, tendo optado pela adopção ao mesmo tempo ou depois de desistirem dos métodos facultados pela procriação medicamente assistida.

Estes casais pretendem, por isso, "a criança que não puderam gerar pela via natural, ou seja a criança de tenra idade" e a sua motivação principal prende-se com "o desejo legítimo à realização da parentalidade".

O perfil destes candidatos faz com que, dos 2363 inscritos até ao final de Junho, 2305 queiram adoptar crianças até aos três anos. Destes, 1261 aceitam receber até aos seis anos, mas 1044 só deseja que lhe entreguem um bebé até aos 36 meses de idade.

Também na escolha da cor da pele é verificável a preferência dos pais adoptantes: só 342 dos candidatos aceitam adoptar uma criança que não seja branca.

Nas deficiências, os candidatos são ainda mais irredutíveis: só 88 estão dispostos a acolher e cuidar de uma criança menos saudável.

Embora 153 dos inscritos não se importem de ficar a cargo com um menor que tenha problemas ligeiros de saúde como, por exemplo, asma, bronquite ou qualquer tipo de alergia.

"Apenas um grupo menor de candidatos" não se importa de ter "uma criança de idade mais avançada, portadora de doença ou de raça diferente da sua" e que tenha irmãos também em situação de adoptabilidade.

O relatório refere igualmente que "através de acções de informação/formação" a médio prazo talvez seja possível "ajudar os candidatos a descentrar-se da criança bebé que não puderam ter" e a querer, simplesmente, um filho sem indicar requisitos especiais.

Quase 1200 crianças estão já em processo de adoptabilidade. É o que indicam as listas nacionais de adopção no final de Junho.

Destas 1190, a maioria (1065) já se encontrava inserida nas novas famílias: 452 com a adopção já decretada pelo tribunal e 613 em fase de pré-adopção (nos seis meses que distam entre a entrega da criança e a declaração do juíz) e 125 estavam em vias de integração.

O relatório mostra ainda que , embora maioria dos candidatos a adoptantes (1555) não tenha assinalado preferência de género, as meninas são três vezes mais desejadas. Com 665 pedidos contra as 212 solicitações para meninos.

O documento assinala ainda só existir "paridade estatística" nas fratrias de adoptabilidade, ou seja, nas pretensões de adoptar uma criança com irmãos também adoptáveis. Mesmo assim há 633 crianças nessa situação para 514 candidatos.»

Fonte:JN

Link:http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=975925

Sem comentários: