quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mãe-canguru é alternativa à incubadora


«Método em que o recém-nascido fica junto ao corpo da mãe, o tempo todo, é melhor para a evolução de bebês prematuros
Agência USP

A incubadora pode não ser sempre a melhor escolha para tratar bebês de baixo peso. Uma forma de tratamento alternativa é o método mãe-canguru, em que o recém-nascido fica junto da mãe o tempo todo preso com uma faixa ao corpo dela (daí o nome do método).

Na tese de doutorado da Faculdade de Medicina da USP, Modelos de assistência neonatal: comparação entre o método mãe-canguru e o método tradicional, a médica Maria Haydée Augusto Brito fez uma comparação entre as duas formas de assistência e chegou à conclusão de que o método canguru possibilita uma melhor evolução para os prematuros, apesar de o método tradicional (com uso de incubadora) ter um papel muito importante no tratamento inicial desses bebês. Ela analisou os dois modelos sob os seguintes aspectos: crescimento e desenvolvimento do bebê, forma de aleitamento e vinculação afetiva da mãe com a criança.

O estudo contou com a participação de 70 mães e seus bebês e foi realizado num hospital público terciário do Estado do Ceará. Os critérios para escolha dos casos a serem analisados na pesquisa foram: o bebê pesar menos de 1.500 gramas (g) ao nascer e alcançar estabilidade clínica no primeiro mês de vida, além da concordância da mãe em participar do estudo. Para os grupos poderem ser comparados, eles deveriam ter características semelhantes. "Um bebê que atinge esses critérios em 30 dias é diferente de um que os atinge em 40", explica a pesquisadora.

Passada a seleção e concordância das mães em participar do estudo, Haydée chegou à fase de entrevistas com as mães. As questões abordavam a gravidez, o parto, o tipo de reanimação a que o bebê tinha sido submetido, entre outras. Ela também fazia perguntas sobre os sentimentos das mães em relação aos filhos e à situação pela qual passavam. Para não condicionar respostas, a médica iniciou as entrevistas com a mesma pergunta aos dois grupos de mães: "Como está sendo para você cuidar do seu bebê?". A elaboração das perguntas seguintes partia das respostas dadas pelas mães, evidenciando a experiência singular de cada uma.

Mães inseguras
Nessa primeira fase do estudo, Haydée detectou nos dois grupos um sentimento de necessidade. "Na minha compreensão, a mãe de um bebê prematuro é tão paciente quanto o próprio bebê." A pesquisadora entende que as mães de bebês prematuros se sentem inseguras, pois os médicos e enfermeiros sabem mais sobre seu recém-nascido do que elas mesmas.

Quanto ao crescimento, a médica verificou, em dados quantitativos, que os bebês submetidos ao método tradicional ganharam, por dia, em média, 19g; e os do método mãe-canguru ganharam 15g. "Ganhar mais peso não significa necessariamente ter evolução melhor." Segundo Haydée, esses dados sozinhos não significam que o método tradicional seja melhor.

Ao avaliar os dados qualitativos ela pôde verificar isso. As crianças do método canguru se alimentavam, em média, com 75% de leite materno e 25% de leite de fórmula. Os bebês de incubadora se alimentavam, em média, com 75% de leite de fórmula e 25% materno. "As evidências científicas recomendam o leite materno mesmo que o bebê não ganhe tanto peso quanto ganharia se alimentado com fórmulas lácteas", diz Haydée. Ela revisou estudos já publicados sobre o assunto, que avaliavam que o bebê alimentado com o leite da mãe tem melhor desenvolvimento de longo prazo.

Ainda em relação ao aleitamento materno, os dados coletados pela pesquisadora mostraram que o bebê prematuro assistido pelo método canguru tinha chance 37 vezes maior que aqueles assistidos pelo método tradicional de estar mamando no peito no momento da alta hospitalar.

Antes de os recém-nascidos terem alta, Haydée fez uma última entrevista com as mães, nos moldes da primeira. Ela avaliou que "na saída, as mães integrantes do grupo do método canguru apresentaram uma avaliação de superação das dificuldades trazidas pela condição de nascimento do bebê, enquanto as do método tradicional apresentaram, ainda, uma situação de necessidade."

Haydée ressalta que "a assistência neonatal deve favorecer a presença materna, deve preocupar-se com o equilíbrio mental do bebê, com sua adaptação psicossocial e não só com sua saúde orgânica". Outro aspecto importante que a médica enfatiza é que, muitas vezes, as pesquisas na área da medicina restringem-se aos dados quantitativos, mas que deveriam também levar em conta aspectos qualitativos, pois "a ciência médica não é como as outras Ciências Naturais. Tratá-la dessa forma leva-a a uma simplificação inadequada a seu objeto de estudo que é complexo, pois, afinal, a medicina estuda o ser humano."

A tese de doutorado foi orientada por Sandra Ellero Grisi, professora da Faculdade de Medicina da USP.»

Fonte:Uai
Link:http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_8/2008/11/17/em_noticia_interna,id_sessao=8&id_noticia=88336/em_noticia_interna.shtml

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