segunda-feira, 16 de março de 2009

Médicos optam pelas cesarianas para se protegerem


«O receio de um processo na Justiça, quando os partos correm mal, e uma gestão virada para a quantidade e não para a qualidade são algumas das explicações que Carlos Reis, obstetra bem conhecido em Faro, aponta para o aumento das cesarianas.

Não existe apenas uma explicação para a tendência de aumento de cesarianas, mas se uma há que tem ganho terreno, é a “mão pesada da Justiça”.

Carlos Reis, obstetra e ginecologista há 18 anos e ex-chefe de equipa demissionário no Hospital Distrital de Faro, explica porquê: “Admito que seja uma defesa do próprio técnico, que pode estar sob avaliação em termos legais se houver contratempos no parto”, diz.

Por outro lado, existe a pressão das mães, que insistem cada vez mais em solicitar os partos de cesariana. “Há até já quem admita que se deve fazer cesariana (no público) a pedido da mãe”, adianta.

Admitindo que “cada caso é um caso”, Carlos Reis afirma que as cesarianas devem ser a excepção e não a regra, como parece ser cada vez mais o caminho, até na formação dos internos: “A aplicabilidade dos forceps e ventosas têm condutas especiais e hoje os jovens começam ao contrário. Só ao fim de um ano de estágio com os partos normais se devia passar para as cesarianas, mas hoje é precisamente por aí que eles começam”, garante.

O obstetra reconhece também que o número de profissionais é insuficiente para o aumento de situações que acorrem às Urgências, o que resulta num menor acompanhamento durante o trabalho de parto.

Desta forma, situações que poderiam ser detectadas neste período e “corrigidas”, mantendo a hipótese de um parto vaginal, acabam por ser transformadas em urgentes, com a consequente cesariana.

Esta é uma realidade que os profissionais com responsabilidade conhecem bem, mas que nem sempre questionam: “Hoje os directores de serviço estão para servir os interesses administrativos e não como técnicos para zelar pelo paciente, orientam-se em função da quantidade e não da qualidade”, critica.

O aumento das cesarianas, constatado a nível europeu, acaba por ter impacto directo nas contas da saúde. É que, para além de ser uma intervenção cirúrgica com um período mais longo de internamento (cerca de 4 dias, em média contra 2 em parto normal), o que leva à maior ocupação de camas, existe ainda o factor preço: segundo o especialista, uma cesariana poderá rondar os 5 mil euros, ao passo que um parto normal custará cerca de metade.
Mário Lino »

Fonte:Observatório do Algarve
Link:http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=27804

1 comentário:

Anónimo disse...

Pesquisem lá bem, pois o Hospital de Faro em 2008 teve uma taxa de quase 50% de cesarianas. Isto não é normal!
É altura de reflectir sobre o atendimento e a abordagem dos profissionais de saúde deste hospital.
Eu fui lá ter o meu bebé em 2008 e faço parte da larga fatia de 50% de cesarianas. O meu parto foi provocado, não deixaram-me levantar da cama, facto que me levou a pedir desesperadamente pela epidural. O meu bebé entrou em sofrimento e...cesariana!
Quantos mais casos? Muitos, de certeza.
Está na altura de reflectir...